// Contra-Corrente //
Cortadores de caminho lá fora
Edição 218 - NOVEMBRO 2011 - TOMAZ LOURENÇO
Agora, além dos que entram em maratona “apenas para
completar”, existem os que não querem se dar ao trabalho nem de fazer os
42 km numa boa: apenas largam e chegam, até festejando com a bandeira
do Brasil!
A Maratona de Berlim é um dos destaques
desta edição por mais uma vez ter sido palco do recorde mundial. Mas
também pelo expressivo número de brasileiros presentes (535), sem contar
os que cortaram caminho, conforme se vê pela listagem no site da prova,
em que esses pseudocorredores não tem o chip registrado no percurso.
Apesar da flagrante falsidade dos resultados, nem todos os elementos
foram desclassificados, nem advertidos ou levados a uma delegacia (como
aconteceu numa maratona inglesa) para dar explicação para esse
comportamento ofensivo para com os reais maratonistas e para com o
público, que está lá para aplaudir os que se esforçam para superar os 42
km.
Alguns cortaram de forma
discreta, entrando no percurso perto da chegada na hora de maior fluxo.
Mas outros o fizeram de maneira acintosa, como duas brasileiras que
tiveram a ousadia de finalizar em menos de 3 horas, chegando entre
corredores de verdade, que devem ter se chocado pela presença delas
terminando com aquele tempo. E depois fazendo fotos com a medalha, na
maior cara de pau, sem contar os que chegaram com a bandeira do Brasil,
envergonhando o país, como atestam as fotos no site do evento. Aliás, na
lista dos resultados aparecem alguns desclassificados, que não se deram
ao trabalho nem de largar e fizeram a chegada, pegando medalha, tirando
fotos etc.
E como não foram poucos
em Berlim, pode-se pensar que talvez esteja surgindo uma nova tendência
entre os corredores brasileiros, de ir ao exterior participar de
maratona e voltar com medalha, fotos, camiseta etc, sem necessariamente
fazer os 42 km. E o pior é que a maior parte dos cortadores na maratona
alemã aparece como pertencente a equipes!!!
É
sabido que de há alguns anos para cá participar de maratona deixou de
ter um espírito heróico, de coisa de gente abnegada, que se dedicou a
treinamentos exaustivos por vários meses, mudou sua rotina de vida,
emagreceu etc. Agora muitos não têm a menor preocupação com o tempo que
irão fazer, e vão à prova "apenas para completar", como gostam de dizer.
E dessa forma fazem os 42 km trotando, intercalando com caminhada, e
naturalmente conseguem finalizar, sem problemas. Os treinos para tanto
não são obviamente puxados e dessa forma a maratona vai se
popularizando, o que, aliás, não é um fenômeno brasileiro, mas geral.
Agora,
com o advento dos cortadores, parece que estamos chegando numa nova
fase, de que não seria necessário nem uns poucos treinos para participar
de uma maratona. Basta largar, trotar por alguns quilômetros, pegar um
transporte ou cortar em determinado ponto, e ir para a chegada, com o
detalhe importante de ser uma prova no exterior, o que sempre dá mais
valor ao feito. Aliás, esse aspecto parece fundamental, uma vez que nas
provas gigantes na Europa ou Estados Unidos fica mais difícil ser
desmascarado e o povo de lá por certo não imagina tal descalabro.
Aí
então pode ser que, a depender da demanda, comecem a aparecer equipes
especializadas em dar o suporte para se conseguir esses resultados
rápidos no estrangeiro, com chamadas do gênero "Você decide em que tempo
quer terminar a maratona; não precisa treinar; nós garantimos sua
chegada sub 3h, sub 3h30, o que quiser!" Será que vamos trilhar esse
caminho, depois da atual fase de "Venha treinar conosco e complete uma
maratona numa boa"?
32 Respostas para “Cortadores de caminho lá fora”
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Numa corrida o verdadeiro vitorioso não é somente passar pela linha de chegada, oque realmente vale, e torna vc vitorioso são seus atos durante a corrida… isso sim tornará vc vitorioso, sua garra, suor…perseverança, respeito…
Marcos
Ultramaratonista
Esses atletas que fazem isto são oriundos de Academias,eles só querem aparecer.
Tem que ter mais fiscalização por parte dos promotores de eventos,uma vergonha para nós brasileiros,eles fazerem isto no exterior.
FORA AOS ATALHADORES DE PLANTÃO.
Mas já percebi sim assessorias dando “apoio” desse tipo para um determinador corredor ter destaque na categoria, em provas de revezamento, como se o “atleta” tivesse feito solo. Anos de pista e agora nas ruas, não imaginei que veria isso na minha vida! Gente até com sobrepeso e acima dos 40anos colecionando “pódios” e “troféus” Será que a falta de ética está tão enraizada em nossa cultura que começa oferecer esses frutos para uma colheita maldita e vergonhosa?! Faço Meias há 20 anos e quando me questionam o porquê não faço os 42K, recebem com desdém minha resposta de que ainda não sou maratonista!! As Ultramaratonas e as provas off road, tornaram-se opção para quem não quer o compromisso de fazer bem os 21k ou os 42k, mas sim apenas “concluir” a prova! Digo que quando fizer 3 meias abaixo de 1:40h farei os 42k! Cortador de caminho é criminoso e não atleta.
Bom-senso acima de tudo. E que prevaleça o espírito esportivo e competitivo. De verdade.
Vivian
triatleta e maratonista.
Quanto aos espertos o problema é a fiscalização mesmo e a consciência de cada um.
Eu comecei a correr em 2010, bem na época da moda, mas percebo que isso mudou minha vida para sempre, e quero sim um dia fazer uma maratona, digo mais, farei no ano que vem porque vou me superar e não quero saber do tempo, assim como nas minhas primeiras corridas de 5, 10 e 21, ai depois sim eu começo a pensar em melhorar o tempo, porque novamente vou querer me superar.
É isso o que eu penso. Estou aberta para uma “discussão” sobre o assunto. Só para constar eu corro sozinha 6 vezes por semana na USP.
abraços
Quanto a cortar caminho, aí sim, acho um absurdo e tremenda falta de respeito e educação de quem assim procede. Resta-nos o consolo, que essas pessoas, podem até enganar o mundo, mas não podem enganar a sua Consciência e no íntimo sabem que que a ” sua conquista” é Falsa e Vergonhosa e creio que as Organizadoras deveriam identificar e divulgar a Ação desse falsos esportistas.
Abraço a todos e Parabéns pela Revista.
Na questão dos fraudadores, eu acho um absurdo também.
Inacreditavel como tem pessoas/corredores capaz de fazer isto? Se e que podemos chama-los de corredores. Creio que nem aos 80 (oitenta anos) que e quando desejo parar de correr, nao farei uma coisa desta. Aqui em Toronto participo de varias corridas populares e algumas Meia-Maratona e eu nunca vi uma atitude desta. Vamos falar do que e bom, as corridas aqui sao otimas. Fica o convite para alguem vir correr aqui, tem um cantinho simples para acolhe-lo. Tenho que ficar aqui, mais alguns anos ainda, ate a filha terminar os estudos.
Boas corridas.
Impressionante com a famigerada Lei de Gerson contamina as mentes de muitos brasileiros, seja na vida profissional, educacional, agora até nós esportes. Quem pratica esporte por amor, não precisa provar nada pra ninguém, pratica por quer buscar realização pessoal, enfrentar os seus limites, etc. Isso na verdade é muito ignorância de uma parcela privilegiada da população, que mesmo com estudo formal e família, insistem em “dar uma de espertos”, mas no fundo são ignorantes sem personalidade. Por isso, na cabeça de um europeu isso é incompreensível.
Passei a ser leitor da revista este fim-de-semana, excelente publicação, serei um leitor assíduo. Abç
LÁ PARA “PARTICIPAR” É INCOERENTE A REVISTA CRITICAR OS CORREDORES “SIMPLES MORTAIS” QUE CORREM APENAS PELO PRAZER DE CORRER.É ESSE PUBLICO QUE CONSOME REVISTA ESPECIALIZADA EM CORRIDA.
Nesses tempos tão modernos em que somos surpreendidos por tantas noticias chocantes, 11 setembro,tsunami,padres pedofilos, achei que mais nada me surpreenderia, tenho tamanho respeito pelo heroismo dos atletas que disputam uma maratona, que jamais imaginei que poderia existir uma entidade alienigena que se fizesse passar por corredor para apenas ter uma medalha e uma misera fóto,agora eu irei observar nas corridas que participar e caso encontre algum individuo suspeito vou denunciar a comissão da prova e encorajarei outras pessoas a fazê-lo.Pessoas que agem desta forma, provavelmente tem traços de disturbios psicológicos e portanto devem ser desencorajados a repetir tal ato, pode-se usar a mesma arma que eles usam para pega-los: o anonimato, é isso ai ” Cortador”, fica esperto a tesoura esta na espreita para te cortar.
Nem vou entrar no mérito, do que se refere aos cortadores de caminho. Infelizmente, também venho observando esse tipo de comportamento absurdo e pernicioso ao espírito esportivo.
Entretanto, o motivo da minha manifestação é tão somente criticar a sua distinção e o comportamento da revista de não valorizar os feitos daqueles que se dedicam a completar uma maratona.
Completei a minha primeira maratona no Rio de Janeiro no ano passado. Infelizmente, tive problemas durante a prova e a preparação e terminei acima de 5 horas. Contudo, não me sinto menos maratonista porque durante a prova, tive apenas o objetivo de completar.
Não sei se vocês da Contra Relógio sabem, mas existem muitos atletas que fazem “Maratona só por completar”, porque possuem algum tipo de limitação que os impedem de atingir excelentes marcas, mas passam pelo mesmo tipo de treinamento, daqueles que vocês chamam de minoria de abnegados.
Inclusive, para que vocês tenham uma ideia, realizei todos os meus “longões” que chegaram a atingir uma distância de 34 km, sem contar os treinos semanais que superaram a distância da meia maratona. Ou seja, me submeti ao mesmíssimo treinamento daqueles que obtiveram um excelente tempo e performance.
Por fim, ao contrário do que vocês pretendem sustentar, correr por um período acima de 5 horas, é tão ou mais sacrificante, do que aqueles que terminam a prova com foco em um tempo específico. Não é necessário dizer, que se submeter a mais de 5 horas de exercício rigoroso, sofrendo a influência de calor excessivo, é verdadeiramente coisa para uma minoria de abnegados.
Espero, sinceramente, que a revista revise esse tipo de opinião e passe a valorizar e a publicar, o feito de todos aqueles que se propõem a participar e completar essa que é a distância mais desafiadora e clássica das corridas de rua.
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Ok, naturalmente que completar os 42 km é mesmo só para quem fez algum treinamento. Apenas dizemos que queremos prestigiar os que buscam não apenas completar, mas fazê-lo correndo o melhor possível. Treinar para uma maratona em mais de 5 ou 6 horas é bem diferente de treinar para completar sub 4 ou 5 horas. Tenho 65 anos e se resolver fazer uma maratona no próximo domingo faria sem problemas, ou seja, correria o quanto pudesse (acho que uns 30 km) sem forçar e depois iria caminhando. Já para fazer os 42 km em menos de 4 horas (3h59…) sei que teria que treinar firme por uns 3 meses. No ano passado não consegui esse feito o que me estimula a pensar nesse desafio este ano.
Grande abraço e bons treinos!
Tomaz
Mesmo assim não vejo problemas em correr pelo prazer de chegar, sem se preocupar com o tempo. Mesmo porque acho que qualquer um que faça mais do que uma maratona sempre correrá as seguintes tentando melhorar o tempo anterior, mesmo que não pense numa sub-3 ou sub-4.
Quanto aos cortadores de caminho, é mais um reflexo da mania de levar vantagem em tudo que o brasileiro tem.
No entanto, fico mais preocupada com a posição da revista contra-relógio ao explicitamente criticar as pessoas que querem “apenas completar” uma prova. O que é isso? Pretende-se selecionar uma raça superior de seres humanos? Francamente chega a ser anti-pedagógica essa postura. Há que se considerar quantas pessoas estão iniciando no esporte e para as quais correr, seja quanto for e a que velocidade for já é uma superação fenomenal e que pode ser uma experiência de transformação da vida. Pessoas que não correm para competir com ninguém, mas para desafiarem seus limites, por puro prazer. Qual o problema? Quer dizer que a lógica competitiva de mercado agora tem que imperar também nas ruas? Tudo pelo relógio? Não, não e não. Há pessoas com os mais diferentes estímulos para correr. Os que querem ser rápidos, que sejam, mas respeitem a diversidade. Se nós, os lentos, incomodamos tanto, que criem provas apenas para os top qualquer coisa. Sejam elites, mas não nos privem de correr. A revista acaba por dar um tiro no pé ao dizer o que diz, tendo em vista que somos nós os amadores despretensiosos que mais movimentamos o mercado das corridas. Sinceramente é preocupante essa postura.
Agora isso realmente deixa a gente ENVERGONHADO.