Os tenis que revolucionaram a corrida.
A indústria dos tenis de corrida, produz
e vende mais de 350 milhões de pares de tenis anualmente. Cada marca
afirma ter desenvolvido os melhores e mais evoluídos tenis de corrida.
Todos os anos surgem novas marcas, novos tenis e materiais incorporados
ao tenis (d)esportivo, prometendo melhoria de desempenho, conforto e
performance dos corredores. Como muitas indústrias o melhor e mais
avançado tenis ainda está por ser criado; a indústria do calçado
(d)esportivo é uma indústria de materiais; cada época novos materiais
vão sendo incorporados aos tenis de alta performance e ao tenis do
corredor ocasional. O tenis de corrida moderno é o resultado de mais de
100 anos de evolução constante. Quais foram as tecnologias que os tenis
modernos herdaram dos seus antepassados? Quem ou que marcas as
introduziram pela primeira vez no mercado? Neste texto pretendemos
reunir os modelos de tenis que por alguma razão marcaram a industria e a
própria atividade (d)esportiva. Aqui estão reunidos os tenis que
revolucionaram a indústria dos tenis de corrida para sempre:
Foster Pump
William Foster & Suns (Reebok)
ano: 1895
Foster Pumps
Pelos anos 1800, o calçado com pregos,
spikes, bicos ou travas, já existia. Existem referencias a esse calçado
desde 1852. Samuel Biddulph, lenda do criquet em Inglaterra, querendo
melhorar a tração dos seus sapatos de criquet, desenvolveu, com a ajuda
de Samuel Foster, sapateiro de Bolton, uns sapatos com 3 pregos mais
longos (spikes). Joseph, neto de Foster, que tinha aprendido o ofício
com o seu avô, observou a famosa e requisitada criação e logo achou que
poderia ser aplicada ao (d)esporto que ele próprio praticava; a corrida.
Assim, em 1895 criou aqueles que seriam os antepassados dos tenis ou
sapatilhas de pista. Criou um corte em couro fino, super leve e flexível
e aplicou-lhe 6 pregos/spikes de uma polegada (2,54Cm) numa sola em
couro firme mas mais fina e leve que o restante calçado. O Foster Pump,
ultra leve, continua a ser o base de todos os tenis/sapatilhas de pista
até aos nossos dias.
Marathon Tabi
Onitsuka (Asics)
ano: 1953
Marathon tabi
Kihachiro Onitsuka, uma das mentes mais
inventivas na história da indústria do calçado (d)esportivo, compensava
com ideias e entusiasmo a sua falta de formação formal em calçado.
Motivado por manter a juventude saudável, no Japão pós guerra, através
do (d)esporto, lançou em 1953 os Marathon Tabi, inspirado nas
tradicionais meias japoneses Tabi. Para lá do design estranho aos olhos
ocidentais, o aspeto verdadeiramente revolucionário destes tenis foi a
primeira aplicação de um tecido sintético no corte do sapato; Vinylon;
com aspeto e toque de algodão, este material reduzia o peso e permitia
uma maior capacidade de respiração. Hoje em dia, os materiais não
naturais são standard na indústria.
Spring Up Shoes
Tiger (Asics)
ano: 1957
Tiger Spring Up Shoes
Estes tenis multi atividades é mais um exemplo de uma tecnologia que
revolucionou completamente a indústria do calçado; com o objetivo de
amortecer os choques, Onitsuka decidiu adicionar espuma à sola, criando
desta forma a sola intermédia em espuma. Hoje a sola intermédia em
espuma é o standard da indústria.
Trackster
New Balance
ano: 1960
New Balance Trackster
Fabricar tenis de corrida numa época em
que apenas um punhado de pessoas corriam é de louvar. Se acrescentarmos
que os trackster eram feitos em diferentes larguras, acabamos por
percerber que ao lançar o Trackster a New Balance se encontrava décadas à
frente da concorrência. O Trackster foi o primeiro tenis com sola
multiusos patenteada Riple, que segundo o fabricante evitava as
canelites. Com esta sola cedo os corredores (na época maioritariamente
estudantes universitários) descobriram que a podiam utilizar tanto em
pista como fora dela, evitando ter que alternar entre os spikes para a
pista e os tenis de sola lisa para estrada. Este tenis foi igualmente
muito provavelmente a inspiração para outras solas que anos mais tarde
prometiam igualmente a utilização mista. Hoje em dia tenis com solas
mistas são comuns na industria.
Walsh Trainer
Walsh
ano 1974
Walsh Trainer
Norman Walsh, aprendiz de artesão na
Foster & Suns (Reebok), decidiu estabelecer-se por conta própria em
1961. Conhecido pelas excelentes botas de Rugby que manufacturava num
pequeno espaço na oficina de sapatos do seu pai. No início dos anos 70
decidiu juntar-se à lenda das corridas “fell running” (literalmente;
corridas de colina) Pete Bland, e ambos desenvolveram o “avô” de todos
os tenis de corrida de montanha ou aventura, a primeira versão em pele,
com uma sola tipo riple e finalmente no início dos anos 70 a versão que
conhecemos hoje; sola com pitons, ou travas em borracha e corte em
nylon azul e amarelo.
Brooks Vantage
Brooks
ano: 1977
Brooks Vantage
No início da moda do jogging, milhares
de pessoas compravam um par de tenis de corrida e começavam a correr.
Muitas pessoas, incluindo profissionais de saúde e treinadores,
repararam que as solas amortecedoras em espuma exageravam os movimentos
de pronação, que muitos começaram a relacionar com certas lesões. Criado
em parceria com o podologista/podólogo Steve Subotnick, DPM (podiatra),
o Vantage foi a primeira tentativa para estabilizar a pronação
excessiva através da “inclinação” da sola intermédia em 4º, com o
objectivo de colocar a articulação subastragalina/subtalar em posição
neutra. Hoje em dia praticamente todos os tenis de corrida da classe
estabilidade possuem uma inclinação semelhante incluída na sua
fabricação.
Air Tailwind
Nike
ano: 1979
Nike Air Tailwind
Frank Rudy, engenheiro e inventor,
idealizou uma câmara de ar, com gás encapsulado no meio da espuma da
sola intermédia dos tenis de corrida, aumentando a capacidade de
amortecimento de impactos e a própria elasticidade e durabilidade da
mesma. Hoje em dia, a esmagadora maioria dos fabricantes de tenis de
corrida possui uma tecnologia de amortecimento de impactos.
Trainer 1980
Saucony
ano: 1980
Saucony Trainer 1980
Muitas vezes, pequenas ideias provocam grandes revoluções. Com o
trainer 80 a Saucony apresenta um tenis de corrida com a construção do
fecho do corte cosida à forma. Este tipo de construção reduz o peso dos
tenis (por não existirem cartões no fecho do corte à forma) aumenta a
flexibilidade e melhora a forma como o tenis acomoda ao redor do pé.
Hoje, praticamente todos os tenis de corrida são cosidos à forma.
Excaliber Gt X Chariot
AsicsTiger (Asics) Brooks
ano:1982
Brook Chariot e Asics Tiger X Caliber GT
Costuma-se afirmar que os mesmos problemas acabam por criar soluções
semelhantes, em 1982, já existiam solas intermédias com diferentes
densidades. Existiam inclusive teniss que lidavam com o problema da
pronação excessiva (Brook Vantage). A Asics e a Brooks, apresentaram
ambas os primeiros tenis de corrida cujas solas intermédias limitam a
pronação excessiva. A Brooks lançou o “Diagonal Rollbar”, no modelo
Chariot, e a Asics Tiger o “Stabilizer Pillar”, desenvolvido em
colaboração com Joe Ellis DPM, podiatra (podologista/podólogo). A dupla
densidade aplicada na sola intermédia para estabilizar é hoje o standard
nos sapatos de estabilidade.
ZX 500
Adidas
ano: 1984
Adidas ZX500
Resultado da investigação em biomeânica
do ETH (Instituto Federal de Tecnologia Suiço), o ZX500 foi o primeiro
tenis de corrida a adotar as três principais necessidades dos
corredores em contato com o solo: Amortecimento, durante o contacto,
Apoio/Suporte, durante o apoio monopodal, e Direcionamento, durante o
impulso. O Zx 500 foi o primeiro tenis cujo design foi totalmente
baseado em estudos biomecânicos.
KM System
Etonic
ano: 1985
Etonic KM System
Até 1985, a maioria dos fabricantes de
tenis de corrida, prometiam apoio, estabilidade e amortecimento de
impactos para todos os corredores. A etonic foi a primeira marca a
publicitar tenis de diferentes categorias, para ir de encontro a
diferentes necessidades dos corredores; Controlo (Quasar), Estabilidade
(Europa), Amortecimento (Maestro) e (Mirage) e Performance (Sigma). Hoje
em dia a diferenciação é um dado adquirido na indústria.
Air Max
Nike
ano: 1987
Nike Air Max
Os anos 80 e 90, foram os anos “loucos”
no mundo do calçado (d)esportivo, e os nike air max são um exemplo dos
passos de gigante dados naqueles anos. Numa época em que a tecnologia
vendia (hoje ainda vende), a nike deu um passo arrojado, expondo a
tecnologia nike air, bem visível na sola para que o consumidor pudesse
ver e sentir. Hoje em dia praticamente todas as marcas de tenis convidam
os clientes a ver e sentir as suas tecnologias.
Pump Fury
Reebok
ano: 1994
Reebok Pump Fury
Embora a primeira aplicação de materiais
compostos em tenis de corrida tenha sido em 1984 com o Etonic Quasar
(placa de fibra de vidro “Dinamic Reaction Plate”), seria injusto não
inserir nesta listagem o Pump Fury. Com a tecnologia Pump, (ou Insta
Pump) finalmente refinada, este tenis ajustava o seu corte ao corredor
comprimindo as câmaras de ar ao redor do pé, eliminando a necessidade de
atacadores. A radical placa graphlite no meio pé (já utilizada em
outros modelos anteriores mas nunca de uma forma tão radical), eliminava
parte da espuma e borracha na sola, reduzindo o peso e contribuindo
para um dos designs de tenis de corrida mais revolucionários da
história. Os materias compostos são hoje uma das aplicações mais
frequentes na indústria.
Free
Nike
ano: 2004
Nike Free
Criado em 2004 o nike free foi feito com
um objectivo; simular num tenis de corrida a forma de correr e pisada
descalça. A ideia era criar um tenis que fosse usado para simular o
trabalho de fortalecimento dos pés feito por muitos corredores na areia
ou relva/grama. Correr como se estivessem descalços, soa familiar? O
free é o avô de todos os tenis “barefoot”, embora não possa ser afirmado
o mesmo dos tenis minimalistas, esses já cá andam desde o primeiro em
1895.
Five Fingers
Vibram
ano: 2005
Vibram Five Fingers
Originalmente criados para (d)esportos
aquaticos, como vela ou canoagem, estes tenis cedo foram adotados pelos
adeptos da corrida natural/minimalista. O seu design ao mesmo tempo
radical e simples faz parte do seu apelo. Muito do design que se vê nos
tenis modernos; com solas mais baixas e finas são influencia do chamado
calçado minimalista.
Nike plus
Nike Aple
ano: 2006
Nike/Aple plus
Um dos primeiros sistemas de integração tecnológica, e sem dúvida o
que obteve mais êxito, o nike plus permite a iteração entre os tenis
alguns modelos de leitor de mp3 Ipod, através de um sensor colocado
dentro do tenis esquerdo. A tecnologia permite ao corredor, entre outras
coisas, saber a distancia e calorias gastas, assim como partilhar ou
desafiar outros através da rede social. A integração tecnológica é uma
realidade também nos tenis de corrida.
Trance
Brooks
ano: 2008
Brooks Trance
A Brooks em 2008 foi das primeiras marcas a perceber que os tempos
estavam a mudar no início de século, a crise económica mundial educou os
consumidores a serem mais conscientes dos seus gastos e consumo, o
trance apresentou uma novidade aos tenis de corrida; tenis com solas
biodegradáveis. Acredito que no futuro os tenis não degradáveis ou
recicláveis vão ser a exceção e não a regra.
Spumptown
End Footwear
ano: 2009
Embora a realidade do tenis 100% neutro
para o ambiente seja ainda e apenas um sonho, a verdade é que o End
Stumptown deu passos largos nesse caminho: com a utilização de colas de
base aquosa, atacadores 100% reciclados, borrachas e espumas
parcialmente recicladas ou tecidos de origem vegetal. Pena que no mesmo
ano de lançamento a companhia tenha sido comprada pelo grupo Lacrosse
Footwear, encerrada e as suas linhas descontinuadas. Hoje em dia a
maioria das marcas tem vindo a lançar calçado mais neutros para o
ambiente.
E estes forma os tenis que revolucionaram a forma como os tenis de corrida são desenhados e fabricados.
Existiram muitos outros modelos que por
uma ou outra razão poderiam entrar nesta listagem, mas estes foram
verdadeiramente os pioneiros e revolucionários.
Noutra ocasião apresentarei os modelos
que foram tão revolucionários que acabaram por se tornar em flops;
ideias que não foram aplicadas corretamente ou simplesmente que foram
ignoradas pelo público por terem sido apresentadas antes do tempo.
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