terça-feira, 1 de janeiro de 2013

São Silvestre com a cara do Quênia


São Silvestre com a cara do Quênia

Thiago Bassan
Do Diário do Grande ABC

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A 88ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre pode ser resumida em apenas uma palavra, ou melhor, um país. O Quênia comprovou a supremacia na mais tradicional prova do atletismo brasileiro e faturou as disputas no feminino e no masculino, com Maurine Kipchumba (51min42s) e Edwin Kipsang (44min05s), ontem, na Avenida Paulista. Ao Brasil, restou a determinação de alguns dos seus representantes, como Giovani dos Santos (quarto no pódio) e Tatiele de Carvalho (sexta colocada).
Como de costume, o público tomou a Paulista. A mudança da prova de 15 quilômetros para o horário da manhã (a disputa da elite teve início às 8h40 com a prova feminina) não intimidou ninguém. Teve gente de todos os lugares.
Os fantasiados novamente divertiram o público lembrando ídolos como Roberto Carlos, Elvis Presley, Raul Seixas e até mesmo o goleiro Cássio, herói do Corinthians na final do Mundial de Clubes.
A primeira batalha foi entre as mulheres. E o Brasil deu indícios de que estaria no pódio. Marily dos Santos assumiu a ponta no terceiro quilômetro, mas não manteve o ritmo e foi ultrapassada pelas quenianas Nancy Kipron e Rumokol Chepkanan. Porém, a compatriota Maurine Kipchumba assumiu a dianteira. A atleta se distanciou e conquistou outra vitória para seu país - a tanzaniana Jackline Sakilu chegou em segundo lugar e a também queniana Rumokol Chepkanan, em terceiro.
Tatiele de Carvalho (54min10s) foi a melhor brasileira, seguida pela compatriota Sueli da Silva, em sétimo.
Depois, veio a prova masculina. No pelotão de elite, formado predominantemente por africanos, três brasileiros tentaram equilibrar a disputa. Giovani dos Santos, Giomar Pereira da Silva e José Roberto Jesus, acompanhados pelos concorrentes estrangeiros, abriram boa diferença nos primeiros quilômetros.
Mas a esperança de pódio verde e amarelo durou pouco. Três quenianos, Mark Korir, Joseph Aperumoi e Edwin Kipsang, dispararam na frente. Aperumoi ficou para trás na sequência e a disputa ficou restrita aos compatriotas.
E a tão falada subida da Avenida Brigadeiro Luis Antônio, outra vez, definiu o vencedor. Kipsang, em ritmo de impressionar até quem gosta de correr, deixou o rival para trás, conquistando o 13º ouro do país na prova no masculino.
Os quenianos Joseph Aperumoi e Mark Korir ficaram com a segunda e a terceira colocações, respectivamente.
Além de Giovani dos Santos (quarto), Ubiratan dos Santos (oitavo) e Paulo Roberto de Almeida (décimo) foram os melhores brasileiros.
Brasileiros com sentimento de dever cumprido
Embora o desejo dos brasileiros fosse subir ao lugar mais alto do pódio e quebrar o incômodo jejum de vitórias, principalmente no feminino - no qual o País não obtém resultado positivo desde 2001, com Maria Zeferina Baldaia -, os anfitriões que obtiveram os melhores resultados na edição de ontem da São Silvestre deixaram a Avenida Paulista com o sentimento de dever cumprido.
A corredora Tatiele de Carvalho, que treina em Limeira, no interior paulista, comemorou a sexta colocação como se fosse uma vitória. "Estou muito feliz, o sentimento é de vitória conquistada. Ser a primeira colocada no meu país é algo que me engrandece como pessoa e profissional. Me sinto realizada por esse resultado aqui em São Paulo. Conquistei meu objetivo", declarou.
Apesar da satisfação, Tatiele destacou as falhas cometidas e que a impediram de assegurar resultado melhor. "Eu acho que meu rendimento no final da prova caiu muito, mas acredito que Deus preparou esta sexta colocação, era para ser. Aos poucos, vou chegando onde quero. Já estava desanimada em correr a São Silvestre porque em todos os anos eu só batia na trave, não conseguia me sair bem. Mas, desta vez, deu tudo certo. Agora sei que posso correr e vou lutar cada vez mais para vencer e me tornar um ícone no cenário nacional", prometeu.
O quarto colocado da prova masculina, Giovani dos Santos, também disse estar em paz pelo desempenho apresentado. "A São Silvestre é uma prova especial. Todo brasileiro quer vencê-la, tem clima agradável, mas é difícil. Tentei acompanhar os quenianos em boa parte. Depois, eles buscaram abrir vantagem, eu encostei e eles abriram de novo. Mas na (Avenida) Brigadeiro (Luis Antônio) achei que eu fosse ganhar mais posições, porque eles sentiram muito naquele momento. Mas eu senti um pouco também. Porém, estou feliz com o quarto lugar. Ainda vou vencer esta prova, isso vai ser muito importante para mim", garantiu.
Jaciel Paulino e Aline dos Santos são os melhores cadeirantes
Primeiro a cruzar a linha de chegada na 88ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre, Jaciel Antonio Paulino comemorou o tetracampeonato na categoria cadeirantes. Ele encerrou o percurso de 15 quilômetros no tempo de 46min01s. O segundo colocado foi Fernando Aranha Rocha, e Carlos Neves de Souza completou a lista dos três primeiros.
Com a vitória, Jaciel se tornou tetracampeão da corrida, mas não superou a marca do pentacampeão Fernando Aranha, que foi o segundo colocado. Porém, ele já vislumbra igualar a marca do amigo. "Quero colar nele. Eu admiro muito o Fernando, sou um fã e espero ser campeão ano que vem também para igualar a marca", projetou o pernambucano.
No feminino, Aline dos Santos Rocha foi a vencedora - tempo de 1h21min09s - em sua primeira participação na prova. A segunda colocada foi Gevelyn Cassia Almeida, que também estreou no circuito paulista. Campeã no ano passado, Angelina Nascimento da Silva terminou na terceira colocação.
Vinda de Santa Catarina, Aline sequer conhecia o percurso, mas não teve dificuldades graças à boa sinalização. "Achei a prova muito bem organizada, foi tranquila e olha que eu nem conhecia o percurso", contou.
Vencedores se mostram surpresos com resultado
O que dizer de um país que conquistou nada mais nada menos que 23 vitórias - 13 no masculino e dez no feminino - na história da São Silvestre? O Quênia mostrou mais uma vez os motivos que o elevaram ao status de supercampeão da corrida. As vitórias de Edwin Kipsang (masculino) e Maurine Kipchumba (feminino) confirmaram a supremacia africana, mas revelaram também que os dois não esperavam pelo importante resultado.
Surpreso com a conquista, Kipsang exaltou o percurso da corrida. "Estou muito feliz porque o percurso estava muito duro, com muitas subidas. Mas tentei me manter forte mesmo assim. Não esperava vencer esta prova, mas estou muito contente e quero voltar no ano que vem", disse.
A surpresa também tomou conta da compatriota Kipchumba. A queniana afirmou que não imaginava vencer a São Silvestre e, por sua vez, fez questão de elogiar o clima na Capital paulista.
"Estou muito feliz com o resultado, mas não esperava ganhar. O clima estava muito bom, nem quente nem tão frio. Senti que meu corpo estava bem e decidi ir para cima na prova", ressaltou a queniana.
A vitória de Kipsang pôs fim a tabu de dois anos do país africano na prova masculina. Mais do que isso, ajudou a comprovar a força dos quenianos na modalidade, já que dois compatriotas - Joseph Aperumoi e Mark Korir - terminaram, respectivamente, na segunda e terceira colocações, enquanto que no feminino, Rumokol Chepkanan ficou com o terceiro melhor tempo.

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