quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Maratona dói O



PAN
Maratona dói
O belo percurso carioca é um consolo para os competidores da mais difícil prova do atletismo
POR RAFAEL PEREIRA

Poucas maratonas no planeta têm um percurso mais turístico que o da prova que será disputada nos Jogos Pan-Americanos, em julho (confira abaixo). Os competidores, porém, dificilmente poderão apreciá-lo devidamente: estarão mais preocupados com o desgaste físico e mental provocado pela prova mais extenuante do atletismo.
Nosso principal representante na prova deverá ser Vanderlei Cordeiro de Lima. Medalha de ouro nos dois últi-mos Pan-Americanos e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, Vanderlei é um bom exemplo dos sacrifícios que essa prova impõe. Hoje, com 37 anos, tornou-se um maratonista de alto nível graças a um corpo naturalmente apto para correr longas distâncias e a uma disciplina rigorosa de treinamento. ÉPOCA conversou com a equipe de Vanderlei – um fisiologista, um fisioterapeuta, um ortopedista, um biomecânico (que estuda os movimentos do corpo) e o técnico Ricardo D’Angelo – para explicar as diferenças entre o corpo de uma pessoa comum e o de um maratonista de alto nível.
“Qualquer um, se bem treinado, consegue terminar uma maratona em quatro horas e meia. É o normal. Mas são poucos os que conseguem chegar perto da marca de duas horas de prova”, afirma o fisiologista Paulo Zogaib, um dos envolvidos na “construção” do campeão Vanderlei.
Maratonas são provas cruéis com o corpo de um atleta, mas um corredor de ponta como Vanderlei nasce com certas características que facilitam sua vida nas pistas. Os melhores corredores de longa distância têm, por exemplo, mais fibras musculares de contração lenta – também conhecidas como “vermelhas” ou “do tipo 1”. Isso favorece as corridas de longa distância. Daí o aspecto franzino de todos os maratonistas profissionais.
1. Depois da largada na Praia de São Conrado, os atletas seguirão pela Avenida Niemeyer
2. Percorrerão as praias do Leblon, de Ipanema, Copacabana e Botafogo
3. Avançam pelo Aterro do Flamengo até o Museu de Arte Moderna (MAM)
4. A partir daí, o percurso segue pelas ruas do centro do Rio: passeio público, Arcos da Lapa, Rua Mem de Sá, Rua do Lavradio, Avenida Chile, Avenida Almirante Barroso, Rua 1o de Março e Avenida Presidente Vargas (ida e volta, com retorno pouco depois de passar o Sambódromo)
5. Depois de retornar pela Avenida Presidente Vargas, os atletas seguirão pela Avenida Perimetral de volta ao Aterro do Flamengo, em direção à Praia de Botafogo, até retornar em frente ao Clube Guanabara e concluir a prova em frente à Administração do Parque do Flamengo (altura da Rua Corrêa Dutra)

Vanderlei conta, ainda, com um aliado “atmosférico”. Dois meses antes de cada competição, os principais atle-tas treinam em regiões com altitude elevada. Antes do Pan, Vanderlei vai para Paipa, na Colômbia, 2.600 metros acima do nível do mar. Como a pressão do ar nos pulmões é menor, o atleta tem mais dificuldade de respirar. Com a adaptação natural do corpo, o sangue fica com mais glóbulos vermelhos, os responsáveis por levar energia aos mús-culos. É com esses glóbulos vermelhos extras que Vanderlei descerá ao nível do mar, no Rio de Janeiro, para tentar o tricampeonato no Pan.
1. Pulmão
A “falta de ar” é sentida nos pulmões, mas o verdadeiro problema está no consumo de oxigênio das células musculares. Um maratonista profissional costuma consumir 85 mililitros de oxigênio por minuto por quilo de seu peso, quando uma pessoa normal consome apenas 35 mililitros. Portanto, é necessário que o pulmão esteja com sua capacidade plena. Cigarros são proibidos. Mas uma simples gripe já complica a vida do atleta
2. Abdômen/lombar
Vícios de postura podem ser fatais ao cabo de 42 quilômetros. Por isso, maratonistas fazem um trabalho chamado “economia de corrida” – exercícios que fortalecem o abdômen e a região lombar, por exemplo. Vanderlei corre com o corpo levemente inclinado para a frente e fez esse tipo de reforço muscular para corrigir o problema e melhorar seu resultado
3. Músculos
O corpo humano tem dois tipos de fibras musculares: as de contração lenta (ou tipo 1) e as de contração rápida (ou tipo 2). Os melhores maratonistas, como Vanderlei, têm naturalmente mais fibras lentas que rápidas no corpo. Um ser humano “normal” tem 70% de fibras lentas. Nos maratonistas essa quantidade chega a 85%
4. Pés
São necessários calçados especiais para cada situação. Tênis com solas altas são os ideais para treinar, porque evitam lesões causadas pelo impacto da corrida. Durante as competições, porém, o recomendado são os tênis de sola baixa, que fazem o atleta correr mais rápido. O ideal é que o atleta reveze três pares durante o treinamento, para que a borracha recupere o formato original entre um e outro uso. A cada 800 quilômetros, o par deve ser jogado fora
5. Cabeça
O momento de maior dificuldade ocorre próximo à marca dos 30 quilômetros. Nesse ponto, dizem os especialistas, os atletas estão no pico do desgaste de energia e água. É aí, portanto, que eles percebem se vão ter forças para chegar até o fim em uma boa colocação ou não. É preciso ter bom preparo psicológico para manter a estratégia de corrida durante as piores provações físicas da maratona
6. CoraçãoUm coração em bom estado bombeia 80 mililitros de sangue a cada batida. Maratonistas de alto nível têm essa capacidade naturalmente mais alta. Quanto mais sangue circula pelo corpo, menor a fadiga muscular. O coração de Vanderlei bombeia naturalmente 100 mililitros de sangue por batida. Com a rotina dos treinos, a capacidade pode chegar a 120 mililitros
7. Joelho
Ao final de uma maratona, é como se as articulações tivessem suportado um impacto de quase 1 tonelada. Os joelhos sofrem mais no asfalto, onde se costuma correr as maratonas. A maior parte do treinamento deve ser feita em grama, terra ou saibro – pisos mais fofos – para prevenir lesões
Fotos: Arq. Ed. Globo e Daryan Dornelles/ÉPOCA

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