terça-feira, 16 de outubro de 2012

OS MEGA MARATONISTAS


Cultura
Campeões descalços
O país que abriga os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara também é berço dos melhores corredores de megamaratonas do mundo, os índios tarahumaras.


por Fabíola Musarra

fotos: Getty Images
Método raro de caçar: correr atrás dos animais até matá-los de exaustão. Abaixo, as sandálias invejadas.
Conhecido pelas cores da natureza e pela alegria de seus habitantes – um povo para quem até o Dia de Finados é motivo para festejar o reencontro com os antepassados –, o México é muito mais do que cenários paradisíacos pontilhados por restaurantes, onde se toma tequila e se comem tacos ao som de mariachis. O país sede dos próximos Jogos Pan-Americanos guarda em sua cultura singular também um patrimônio atlético: os índios tarahumaras são considerados os melhores corredores de maratonas do mundo, segundo estudos da Universidade do Arizona.
fotos: Getty Images
Embora suas longas corridas feitas com pés descalços ou com uma simples sandália artesanal de solado de borracha tenham inspirado a indústria esportiva e o best-seller Nascido para correr (Ed. Globo), do norte-americano Christopher McDougall, os tarahumaras parecem personagens de ficção. Os últimos sobreviventes da grande cultura mesoamericana pré-hispânica integram um povo que quase nunca é visto. Mas eles existem, sim. Segundo o Censo Supremo Tarahumara de 2005, 105 mil desses índios vivem em um território de 54 mil km², isolados ao redor de cânions, desfiladeiros e picos rochosos das montanhas da Sierra Madre Ocidental, no Estado de Chihuahua, noroeste do México.
A cada dia a civilização global empurra a tribo para lugares ainda mais remotos da serra, onde vive em cavernas sem luz e água corrente, em condições adversas. Não há estradas que conduzam até eles. Como se não bastasse, a região ainda é controlada pelos cartéis de drogas. “O caminho era difícil e perigoso. A sorte foi que encontrei alguém para me guiar”, conta McDougall no livro. “Nunca pensei que teria de atravessar um lugar chefiado pelo narcotráfico.”
Alheios à violência do mundo, os tarahumaras amam o silêncio e vivem isolados no território de difícil acesso. Por isso mesmo sobreviveram aos ataques dos conquistadores espanhóis, ao contrário dos maias e astecas, dizimados por eles, e dos seus inimigos apaches, que vivem do outro lado da fronteira, nos Estados Unidos. Sua filosofia de vida consagra a comunhão com a natureza. Vivem à base de milho e mantêm um idioma próprio, transmitido oralmente de mãe para filho, o rarámuri, nome pelo qual a tribo também é conhecida.
Rarámuri pode ser traduzido como “aqueles que funcionam” ou “o povo corredor, os que caminham bem”. Possivelmente, a primeira tradução é a mais correta. No entanto, a segunda se difundiu devido à extraordinária capacidade física do povo tarahumara para correr longas distâncias. Basta dizer que um dos seus métodos de caça é perseguir os animais até eles caírem de exaustão.
As sandálias famosas ja foram estudadas pela indústria de equipamentos de corrida e inspiram vários tipos de calçados inovadores. Eles também já convenceram muitos corredores a correr descalços.
McDougall sabe muito bem o que significa essa habilidade: “Homens de 50 anos correm como adolescentes. São capazes de correr megamaratonas de 160 ou de 240 quilômetros, sem problemas aparentes nem lesões.” Além dessa performance, a pequena comunidade tribal nas montanhas desconhece o que é obesidade, diabetes, depressão, crime e assaltos. Ao contrário do que acontece em muitas outras sociedades.
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